Quilombos e Fotoetnografia

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Comunidade do Quipá, à beira do Rio São Francisco.
Foto de Márcia Guena
 
O projeto “Perfil fotoetnográfico das populações quilombolas da região do submédio São Francisco: identidades em movimento”, iniciado em 2011, está realizando o perfil fotoetnográfico das populações quilombolas da região do submédio São Francisco.  Estamos conhecendo através de fotografias, vídeos e entrevistas as populações de origem africana que fincaram suas raízes às margens do Rio São Francisco ou sertão adentro.

Nesse primeiro ano, além de fazer a leitura pertinente ao projeto, visitamos as comunidades de Junco, Barrinha da Conceição, Rodeadouro e Quipá. Pretendemos, no final da pesquisa, discutir a construção das identidades na região a partir do patrimônio cultural destas populações. A metodologia principal será a fotogetnogorafia, ancorada na antropologia visual. Também recorremos a métodos da pesquisa ação, com a realizaçõ de oficinas de fotografia, a partir de propostas e desejos levantados nas comunidades.




O Submédio e a herança quilombola

A herança cultural das populações afrodescentende na região do submédio São Francisco, especialmente entre as cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), pode ser percebida de várias formas, como em todo o Brasil: as expressões da linguagem, a composição fenotípica da população, a comida, a religião etc. No entanto, se percebe de forma incipiente a ligação identitária da população como um todo com os elementos que compõe a cultura afrodescentende, como forma de construção contínua da identidade de sujeitos que carregam essa origem. Dessa forma, a cultura “afro” muitas vezes é folclorizada, apesar de fazer parte do dia-a-dia e percebida pelo senso comum como inerente apenas aos espaços fundadores da mesma, como os quilombos e sendo lembrada apenas nas datas festivas, como o 13 de maio ou o 20 de novembro.
 
Essa observação preliminar encerra uma contradição, pois a presença dos povos de origem africana nessa região é marcante. A região do submédio São Francisco engloba as áreas dos “estados da Bahia e Pernambuco, estendendo-se de Remanso até a cidade de Paulo Afonso (BA), e incluindo as sub-bacias dos rios Pajeú, Tourão e Vargem, além da sub-bacia do rio Moxotó, último afluente da margem esquerda. Pelas cidades de Juazeiro e Paulo Afonso, na Bahia; Petrolina, Ouricuri e Serra Talhada, em Pernambuco”. (CODEVASF, 2009). Neste perímetro, segundo a Fundação Palmares (2009) estão concentradas 17 comunidades quilombolas, representando, portanto, uma herança cultural inestimável para a região.


Sendo assim, o projeto  “Perfil fotoetnográfico das populações quilombolas da região do submédio São Francisco: identidades em movimento” percebe a importância de localizar essas populações, identificadas através da imagem e de suas histórias, para em seguida traçar relações com as construções identitárias na região. As leituras preliminares apontam algumas pistas para o confinamento dessas culturas em seus locais de origem. Inicialmente a condição marginalidade das populações africanas ou de origem africanas saídas da escravidão, condição que se perpetuou ao longo do século XX; e segundo os conflitos de terra, marcantes na região, nos quais essas populações continuam sendo empurradas de seus locais de origem. Assim, traçar esse pefil significa inicialmente dar visibilidade a esse conjunto populacional, mostrando a força e a pujança dessas culturas e apontando novas possibilidades de investigação. Em segundo momento, pretende-se contribuir com a discussão sobre a construção da identidade na região a partir desse grupo étnico, proporcionando elementos de reflexão e, novamente, visibilidade ao papel dos quilombos da região. 


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