Comunidade quilombola de Tijuaçu está prestes a conquistar o título da terra

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Márcia Guena

A comunidade quilombola de Tijuaçu, localizada no município de Senhor do Bonfim, na Bahia, está com o processo de titulação das terras bastante avançado, segundo informou hoje Ilka dos Santos, uma das principais lideranças da comunidade, dirigente da Associação Agropastoril Quilombola de Tijuaçu e Adjacências. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) iniciou o diálogo com os fazendeiros das redondezas e o processo de desapropriação, com pagamento das terras, está bastante adiantado, como afirmou Ilka. Elzinira dos Santos Costa, a Nira do samba de lata. Segundo ela a maioria dessas terras foram adquiridas por valores insignificantes dos primeiros moradores negros ou trocadas por remédios ou outras itens emergenciais que não poderiam ser adquiridas.

Além de Tijuaçu há cerca de 65 comunidades quilombolas em Senhor do Bonfim, 16 delas certificadas, de acordo com dados divulgados pela Fundação Palmares. Estas foram algumas das informações divulgados hoje por lideranças de Tijuaçu os integrantes do Projeto Perfil Fotoetonográfico das Populações Quilombolas do Submédio São Francisco: Identidades em Movimento, durante uma visita realizada hoje. Além de promover um debate sobre as comunidades quilombolas de Juazeiro, no dia 21 de novembro, o projeto visitou duas comunidades quilombolas já certificadas e com articulação cultural e política consolidadas: Lage dos Negros, em Campo Formoso, e Tijuaçu, em Senhor do Bonfim.

Equipe do projeto de pesquisa na igreja com mulheres de Tijuaçu. Foto: Juliano Ferreira



Fraternidade e turismo étnico

A comunidade quilombola recebeu o grupo de pesquisa com muita fraternidade, seguindo uma programação turística étnica.  Inicialmente o grupo fez uma entrevista com as lideranças Ilka e Elzenira sobre a história de Tijuaçu. Ficou muito claro que as mulheres foram, desde a fundação da comunidade, as condutoras de todo processo de construção do quilombo, a começar por sua fundadora Mariinha Rodrigues.


 
Elzenira dos Santos (Nira)
Ilka dos Santos

Samba de lata

Logo veio o fantástico, criativo e inesquecível Samba de Lata. Meninas e senhoras se revezaram no meio da roda, sambando com passos únicos e difíceis, acompanhadas por apenas uma lata, como se fosse um grupo inteiro de percussão. Palmas, rodas brancas, poesias antigas sobre animais, amores e território. As meninas negras, de beleza exeburante, tornam a roda leve e alegre.



Fotos: Márcia Guena












Um terreiro de umbanda remanescente...

O grupo visitou o terreiro de  Umbanda Senhor Ogum de Ronda, que tem por líder religiosa Lindinalva Nascimento Silva, na comunidade quilombola  vizinha de Quebra Facão,  hoje impedido de fazer todos os seus rituais em função da intolerância de outras religiões.  Em muitas outras comunidades quilombolas da região o culto às religiões de matriz africana tem sido sistematicamente boicotados em função da pressão de outras vertentes religiosas, principalmente as neopentecostais e pelas vertentes mais conservadoras do catolicismo.  Estas religiões que muito contribuíram para a preservação das diversas culturas dos povos africanos no Brasil, hoje sofrem com as diversas pressões e a falta de proteção do Estado.




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