Luz do Quipá: uma lembrança

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Márcia Guena (texto e fotos)

No Quipá, a luz do fim da tarde deixa ver belezas escondidas. Os tons das árvores, as linhas fortes dos rostos, os verdes e marrons do rio, o céu tingido de laranja e azul. A casa do seu Antônio, o barqueiro, cresce, como crescem os animais, os objetos e a poesia. As ilhas, que dão contornos especiais às águas parecem mais enigmáticas. Na verdade a alma de bichos, pedras, plantas, homens, luz... parece que sai naquela hora: um burburinho de vida que toca o coração e confunde a cabeça!  

Casa de Antônio, barqueiro e agricultor
 Eu vi aquelas belezas, como viram os primeiros negros que se aquilombaram no Quipá. A terra era vasta, como conta seu Antônio Cândido de Brito Filho, como contou pra ele a sua mãe, olhando pela janela e recolhendo das águas uma lembrança remota. Plantavam na beira do rio, criavam cabras, corriam pelas praias do Quipá antigo, durante mais de 200 anos, tempo até onde vai a memória de seu Antonio Brito, trazendo avós e bisavós. "Até que em 1972 surgiu uma empresa aqui e comprou tudo. A propriedade não era da gente, era dos Viana e venderam e, pra gente não ficar no mundo da lua, doaram esse pedaço de terra aqui", conta seu Antonio. A população expulsa da área original foi espremida em um pequeno terreno, sem acesso ao rio, perdendo práticas antigas. A terra era herança dos antigos e ali já plantavam e viviam.

Tem muito horizonte no Quipá. Tem ilhas, peixes, flores, jatobás em pé e jatobás tombados, semelhantes ao povo que ali vive. "Que luz é essa, que vem chegando lá do céu?" Parecem memórias irradiadas, latentes, enchendo a natureza de sensações de um passado-presente que nos faz sair acompanhados do Quipá.















 





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